Michael Chekhov não foi o primeiro e eu não serei o último a considerar que “o ator é o teatro”. A direção e luz e figurino etc. precisam ficar a serviço da história sendo contada através da arte dos atores, como um conjunto de músicos suportam a arte de um cantor ou a fotografia, a narrativa de um filme. Se saímos de um show elogiando em primeira instância o baixista ou do cinema discutindo a fotografia incrível, é provável que a relação do conjunto e o senso de inteireza deixem a desejar.
Com nossa produção de “Boa Noite, Mãe” é muito pouco provável que a plateia, na saída de uma apresentação, comece a falar da direção ou da luz ou de qualquer outra coisa a não ser os personagens, a história em si e o trabalho das atrizes. A direção, como outros elementos, está praticamente invisível, costurada dentro da criação das atrizes de uma forma tão intrínseca que nem eu, nem Fabianna ou Thaís conseguiríamos definir 100% onde o trabalho de cada um começa ou termina.
A iluminação e cenografia precisam ser muito bem executadas para esta ideia funcionar. Entretanto, no final das contas, o diretor é o ator que é o teatro. O iluminador é o ator que é o teatro. O cenógrafo é o ator que é o teatro.
Neste teatro que estamos fazendo, tudo depende das duas atrizes, da sua concentração e inspiração para criar algo no espaço para a plateia e exercer sua arte ao longo de 95 minutos.
Uma apresentação bem sucedida da nossa peça depende só delas porque os outros elementos não sustentam nada sozinhos – nem mesmo o genial texto de Marsha Norman. Como disse certa vez o diretor Sidney Pollack: “Ninguém entende palavras, senão não teríamos tantos mal-entendidos no mundo”. O “recheio” é o que importa.
Nossa peça está o tempo todo a só um passo de uma queda no medíocre, no melodrama, caso as atrizes percam a concentração/conexão com a criação deste “recheio” intangível. De alguma forma, acredito que este desafio (perigo?) também é vivido por todos, juntos, numa comunhão que se chama Teatro.