Assisti ao genial Le boucher quando tinha 15 ou 16 anos no pequeno Film Club da minha escola no interior da Inglaterra. Foi organizado pelo professor de francês e portanto os últimos filmes do Truffaut, Malle e Chabrol sempre faziam parte da programação, embora todos em cópias bem precárias de Super-8. Eu nem sei onde ele conseguia os filmes, talvez em uma videoteca na cidade mais próxima. Inicialmente, o clube para mim era nada mais do que uma desculpa para matar alguma atividade esportiva, as quais eram absurdamente excessivas para meu gosto.
Chabrol me tocou de uma forma especial com La femme infidèle e Que la bête meure, mas foi Le boucher que acordou em mim a primeira consciência da construção artística de um filme, a subjetividade do diretor e do fotógrafo, as escolhas de estilo e outras ideias. E embora eu não tenha assistido a este filme recentemente (faz décadas), me lembro exatamente das cenas que eu estudava concentrado e que abriam a minha mente de adolescente para as possibilidades da linguagem de cinema: no final do filme o personagem do Jean Yanne chega uma última vez na sala de aula para encontrar a professora de Stéphane Audran, e segue uma sequência de uma extraordinária delicadeza e beleza, apesar da tragédia violenta se desenrolando.
Le boucher foi a minha primeira uma aula de cinema.
E para os nerds da fotografia: o filme tem um plano sequência maravilhoso que segue os personagens andando pelas ruas do vilarejo por quatro minutos (só seis anos depois a Steadycam chegaria para facilitar este tipo de plano).